Do bege, Timão conserva história com seu manto alvinegro
Camisa do clube já serviu como instrumento político e mecanismo para segurar craques. Escudo formado por letras tem agora estrelas de títulos
Por Carlos Augusto Ferrari e Diego Ribeiro
Cem anos de histórias e poucas mudanças. Títulos vieram, ídolos surgiram e a magia da camisa branca, do calção preto e das meias brancas segue inalterada. Muito próximo de seu centenário, o Corinthians mostra que ser fiel não é apenas fazer parte de uma das torcidas mais apaixonadas do futebol mundial e, sim, conservar a história de seu uniforme.
O hoje alvinegro um dia já foi bege, em homenagem ao Corinthian Casuals, clube inglês que deu origem ao Timão. A camisa de 1910 tinha detalhes em preto nas mangas, barra e gola. Os calções, feitos com sacos de farinha, eram brancos. A mudança aconteceu de uma forma curiosa. Após algumas lavagens, o clube percebeu que o tecido perdia parte da cor. Por isso, em 1916, optou por adotar definitivamente o branco na camisa.

No primeiro plano, camisa com C e P, modelo histórico utilizado pelo time. Depois, chuveiro que "segurou" Sócrates no clube, no início dos anos 80 (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)Quatro anos mais tarde, o Corinthians passaria a atuar com o uniforme que virou sua marca. Os calções passaram a ser pretos assim que a diretoria conseguiu dinheiro para comprá-los. A partir disso, surgiram as primeiras mudanças na camisa, como uma versão preta com listras brancas. O clube chegou a usar também uma toda preta e outra com uma faixa branca com o nome do clube, especialmente usada em clássicos contra São Paulo e Santos.
Em 1949, o Corinthians deixou de lado suas cores oficiais para prestar uma homenagem. O clube decidiu usar grená em um amistoso contra a Portuguesa como forma de mostrar sua tristeza pela tragédia que vitimou todo o elenco do Torino-ITA depois que o avião da equipe se chocou contra a basílica de Turim. Ninguém sobreviveu.
Mas não foi apenas em momentos de dor que o Timão mudou seu uniforme. Em 1969, uma situação curiosa fez a equipe ir a campo bem diferente. O Timão precisou emprestar um uniforme para poder enfrentar o Universitário, em Lima, já que o clube peruano também se vestia de branco.

Memorial guarda camisas que marcaram no Timão
(Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)-
O Corinthians levou só o uniforme branco, mas os peruanos usavam a mesma cor. Então, jogou com uma camisa emprestada, amarela e preta, semelhante à do Peñarol-URU, com a gola vermelha – conta Celso Unzelte, autor do “Almanaque do Corinthians”.
A partir da década de 80, durante a Democracia Corintiana, o uniforme serviu também como um instrumento político. A publicidade estava liberada, mas o clube não conseguia encontrar patrocinadores. Assim, embalado pelas primeiras eleições diretas para governador depois da ditadura, o time estampou nas costas a frase “Dia 15, vote!”.
Ronaldo, aliás, não foi o primeiro jogador do Corinthians a lucrar também com os patrocínios do clube. Em 1984, a direção sofria para renovar o contrato do ídolo Sócrates. Entretanto, com ajuda de uma empresa, o clube conseguiu mantê-lo, mas, em troca, pintou um chuveiro na parte frontal da camisa.
Com o uniforme 1 preservado, o Timão passou a investir em modelos alternativos para arrecadar dinheiro. As criações, entretanto, nunca caíram no gosto da torcida. Em 1995, o estilista francês Ted Lapidus desenvolveu um uniforme para jogos internacionais. A camisa era preta com muitos detalhes em branco e não agradou.

Calçada da Fama exibe todos os escudos
(Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)Quatro anos mais tarde, outro terceiro uniforme, agora na cor preta com detalhes em cinza e amarelo. Durou somente um jogo. A Fiel não gostou do modelo e, logo na estreia, derrota para o Independiente-ARG, em casa, pela Copa Mercosul. No ano seguinte, o Corinthians jogou e venceu o Mundial Interclubes com uma camisa diferente. A produção tinha laterais em preto. Apesar do sucesso no campo, acabou aposentada logo após o torneio. Já em 2006, as listras brancas da segunda camisa foram trocadas por douradas para a Libertadores. Fracassou, como a equipe.
A chegada do presidente Andrés Sanches trouxe ao Corinthians mais novidades na camisa. O departamento de marketing decidiu criar um novo modelo, na cor roxa, em analogia ao fanatismo do torcedor. Curiosamente, parte da própria torcida não gostou. Apesar do sucesso de vendas, uma ala da Fiel exigiu que o clube não vestisse o uniforme em partidas oficiais. Isso aconteceu poucas vezes. São três edições do modelo, que deve ser aposentado em 2011.

Ao contrário da camisa, o escudo do Corinthians passou por várias alterações ao longo dos anos. O primeiro foi criado em 1912, dois anos depois da função, com as letras C e P. Em 1914, Hermógenes Barbuy, irmão de Amilcar Barbuy, um dos primeiros jogadores do clube, elaborou uma moldura para as letras e acrescentou o S, de Sport. Pouco tempo depois, a moldura ficar maior. A partir de 1919, o símbolo começa a ganhar o formato atual, com a bandeira do estado de São Paulo no centro.